“A mulherada já sabe o cotidiano da rua, anoiteceu sozinha você não tá segura!”
Isso
pode parecer confuso de ler, mas é assim: Juízes, como era de se esperar,
questionam sobre a vida sexual da mulher que foi abusada, se era virgem, se
estava sobre efeito de algum tipo de remédio, álcool ou drogas.
Na Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher –
Convenção de Belém do Pará/ONU teve como pauta principal dispensar atenção à
violência sexual e doméstica bem como ações de ampliação e na qual estão
previstas ações de ampliação e acessibilidade das mulheres e adolescentes aos
serviços de saúde.Na cartilha elaborada pelo ministério da saúde tratamento dos agravos resultantes da violência sexual contra mulheres e
adolescentes destaca-se:
“O atendimento aos casos de violência
sexual requer a sensibilização de todos os funcionários do serviço de saúde,propõe-se a realização
de atividades que favoreçam a
reflexão coletiva sobre o problema da violência sexual, sobre as dificuldades
que crianças,
adolescentes e mulheres enfrentam para denunciar esse tipo de crime, os direitos assegurados pelas
leis brasileiras e o papel do setor saúde, em sua condição de co-responsável na garantia
desses direitos”
O
acolhimento aqui no Amazonas, precisamente em Manaus para as vítimas de abuso
sexual são muito cruéis, @s profissionais de saúde não contam com um pingo de
humanidade descumprindo tudo que fora acordado e como é de costume reforçando o
papel desse estado fascista e desumano, que trata toda mulher com mais um
número de uma tabela mal feita.
Segundo
o pesquisador Natã Souza, que desenvolve investigação sobre a temática do abuso
sexual infantil com enfoque nos abusadores, constatou:
“um
nojo d@s profissionais de saúde, até mesmo de alguns psicólogos [...] além da
recorrente culpabilização no caso da vítima em questão, a criança”
Existe
um consenso sobre estupro: Um homem que estupra uma criancinha é um monstro! No
entanto esse monstro transforma-se em homem que segue seus instintos a partir
do momento que, conforme esse pacto imundo, o corpo não é mais um corpo e sim
um lugar fetichizado, daí por diante ocorre a metamorfose doentia que
transforma a vítima em provocadora (Ela criança mas tem corpo de mulher; ela
sempre fica muito bêbada e não lembra de nada, vai ver foi isso de novo; você
já viu as roupinhas dela, acho que piriguete não sente mesmo frio; Ela é a
empregada da casa dele, isso sempre acontece, ela bem que gostou; Feia daquele
jeito, deveria agradecer) e o monstro em
um homem que segue seus instintos. (Mas essas meninas provocam os homens, é isso
que dar)
A cada três
minutos uma mulher é violentada no Brasil.
A cada 2 horas uma mulher é assassinada no Brasil.
Além desses dados alarmantes o estado brasileiro machista
como é ignora e anula o ato de que mulheres morrem todo dia! Reforço aqui o que
já foi dito em postagens anteriores: O Femicídio é real. As sequelas físicas e
psicológicas que um abuso sexual pode deixar são enormes, além de ter que
enfrentar e combater o machismo, nós somos expostas e colocadas nas mãos de
médic@s insensíveis que se valem da profissão para mais uma vez constranger
quem necessita de cuidados especiais: a vítima.
A “cultura do estupro” nada mais é que um ambiente favorável para a coisificação do corpo feminino e da sexualidade, desta maneira entende-se que
certos comportamentos são aceitáveis, o homem usar o corpo da mulher sem seu
consentimento, ou por meio de coerção. Isso ainda assim parece muito afastado
do cotidiano, achar que alguém no mundo acha normal abusar de uma mulher, mas
você reproduz isso quando diz que nós mulheres devemos preferencialmente evitar
alguns comportamentos, algumas roupas, sair durante certos horários. Quando se
faz isso está ratificando essa cultura de que é comum sim estuprar, além de
cercear a liberdade individual de cada uma de nós.
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