segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

“A mulherada já sabe o cotidiano da rua, anoiteceu sozinha você não tá segura!”

“A mulherada já sabe o cotidiano da rua, anoiteceu sozinha você não tá segura!”


Para começar em falar de Estupro vamos reforçar algumas coisas, estupro não é sexo, é dominação e violência! Apenas no século XVI passa a ser tratado como crime sexual e ainda assim estritamente encarado como um roubo da pureza e castidade feminina. Os dados brutos sobre esse tema aqui no Brasil são confusos e ficam aquém da realidade segundo levantamento feito pela ONU cerca de 70% das mulheres sofrem algum tipo de violência no decorrer de sua vida. As mulheres de 15 a 44 anos correm mais risco de sofrer estupro e violência doméstica do que câncer, acidentes de carro, guerra e malária.  O estupro assim com toda violência sofrida pela mulher é tido como um assunto privado, despolitizando e retirando-o com um problema da sociedade em geral e também de saúde. Reforçam constantemente o silêncio das mulheres, afinal falar sobre abuso sexual é viver novamente o abuso, no intuito tardio de “preservar” as pessoas que foram abusadas é comum ouvir a frase: é melhor esquecer isso. Melhor pra quem?  Melhor seria não passar por isso! Os valores morais do século XVI são presentes em 2014, são base de todo esse pensamento pró-vida, pró-família, falar sobre o abuso sexual, segundo eles é constrangedor  para a família da vítima e então é melhor calar-se,já  em um julgamento onde o homem é acusado de abuso a vítima tem que falar perante várias pessoas, tem que lembrar de detalhes, tem que ser clara passar ser testemunha, tem que alienar-se do que aconteceu(já que é VITÍMA).

Isso pode parecer confuso de ler, mas é assim: Juízes, como era de se esperar, questionam sobre a vida sexual da mulher que foi abusada, se era virgem, se estava sobre efeito de algum tipo de remédio, álcool ou drogas.


Na Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher – Convenção de Belém do Pará/ONU teve como pauta principal dispensar atenção à violência sexual e doméstica bem como ações de ampliação e na qual estão previstas ações de ampliação e acessibilidade das mulheres e adolescentes aos serviços de saúde.Na cartilha elaborada pelo ministério da saúde tratamento dos agravos resultantes da violência sexual contra mulheres e adolescentes destaca-se:
“O atendimento aos casos de violência sexual requer a sensibilização de todos os funcionários do serviço de saúde,propõe-se a realização de atividades que favoreçam a reflexão coletiva sobre o problema da violência sexual, sobre as dificuldades que crianças, adolescentes e mulheres enfrentam para denunciar esse tipo de crime, os direitos assegurados pelas leis brasileiras e o papel do setor saúde, em sua condição de co-responsável na garantia desses direitos”


O acolhimento aqui no Amazonas, precisamente em Manaus para as vítimas de abuso sexual são muito cruéis, @s profissionais de saúde não contam com um pingo de humanidade descumprindo tudo que fora acordado e como é de costume reforçando o papel desse estado fascista e desumano, que trata toda mulher com mais um número de uma tabela mal feita.

Segundo o pesquisador Natã Souza, que desenvolve investigação sobre a temática do abuso sexual infantil com enfoque nos abusadores, constatou:

“um nojo d@s profissionais de saúde, até mesmo de alguns psicólogos [...] além da recorrente culpabilização no caso da vítima em questão, a criança”


Existe um consenso sobre estupro: Um homem que estupra uma criancinha é um monstro! No entanto esse monstro transforma-se em homem que segue seus instintos a partir do momento que, conforme esse pacto imundo, o corpo não é mais um corpo e sim um lugar fetichizado, daí por diante ocorre a metamorfose doentia que transforma a vítima em provocadora (Ela criança mas tem corpo de mulher; ela sempre fica muito bêbada e não lembra de nada, vai ver foi isso de novo; você já viu as roupinhas dela, acho que piriguete não sente mesmo frio; Ela é a empregada da casa dele, isso sempre acontece, ela bem que gostou; Feia daquele jeito, deveria agradecer)  e o monstro em um homem que segue seus instintos. (Mas essas meninas provocam os homens, é isso que dar)


A cada três minutos uma mulher é violentada no Brasil.
A cada 2 horas uma mulher é assassinada no Brasil.

Além desses dados alarmantes o estado brasileiro machista como é ignora e anula o ato de que mulheres morrem todo dia! Reforço aqui o que já foi dito em postagens anteriores: O Femicídio é real. As sequelas físicas e psicológicas que um abuso sexual pode deixar são enormes, além de ter que enfrentar e combater o machismo, nós somos expostas e colocadas nas mãos de médic@s insensíveis que se valem da profissão para mais uma vez constranger quem necessita de cuidados especiais: a vítima.

A “cultura do estupro” nada mais é que um ambiente favorável para a coisificação do corpo feminino e da sexualidade, desta maneira entende-se que certos comportamentos são aceitáveis, o homem usar o corpo da mulher sem seu consentimento, ou por meio de coerção. Isso ainda assim parece muito afastado do cotidiano, achar que alguém no mundo acha normal abusar de uma mulher, mas você reproduz isso quando diz que nós mulheres devemos preferencialmente evitar alguns comportamentos, algumas roupas, sair durante certos horários. Quando se faz isso está ratificando essa cultura de que é comum sim estuprar, além de cercear a liberdade individual de cada uma de nós. 

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